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Agrônomo brasileiro consegue US$ 100 mil de Bill Gates para 'fita-semente'

14/11/2013 - 05:46h

Técnicos demonstram como deve ser feita a aplicação no solo da fita-semente, material biodegradável que contém micronutrientes, preserva a umidade das sementes e as protege de pragas. De acordo com Mateus Marrafon, que a desenvolveu, os testes de campo com a fita serão feitos no Brasil e na África

Um projeto capaz de aumentar em 50% a produtividade da agricultura familiar, desenvolvido por um engenheiro agrônomo brasileiro, conseguiu financiamento de US$ 100 mil da Fundação Bill & Melinda Gates, mantida pelo fundador da Microsoft, Bill Gates. 

O inventor selecionado pela fundação é Mateus Marrafon, 29, engenheiro agrônomo que vive em Iracemápolis, a 157 quilômetros de São Paulo. 

Ele criou uma fita biodegradável feita com celulose --um material feito de fibras extraídas de plantas--, onde ficam as sementes e também nutrientes, que servem de adubo. O agricultor enterra essa fita, que se desintegra sozinha, e as sementes se transformam nas plantas, com a ajuda dos nutrientes.

O projeto foi escolhido entre 2.700 ideias inscritas no mundo todo. De acordo com a avaliação da entidade, o financiamento pode ser ampliado para até US$ 1 milhão.

Fita põe sementes na distância certa e protege contra pragas

A vantagem da fita é permitir que as sementes fiquem na distância mais indicada umas das outras. Com isso, o pequeno agricultor pode otimizar a plantação, aproveitando o espaço da maneira mais eficiente.

"Além de barato, o material contém micronutrientes, preserva a umidade e protege contra pragas. E ainda é possível inserir sementes de culturas diferentes no meio do plantio principal, diversificando e dobrando a produção", informou o engenheiro agrônomo.

Marrafon disse ainda que a técnica é de baixo custo, sendo que o plantio pode ser feito manualmente, o que beneficia agricultores de pequeno porte.

"As sementes ficam no lugar certo, no espaço ideal. Já os nutrientes ajudam no desenvolvimento da planta e aumentam a taxa de sucesso do cultivo", afirmou. Cada metro de fita custa R$ 0,30. "Isso é acessível para qualquer pessoa."

Produtor pode misturar plantas na cultura principal

O pesquisador conta que a fita foi projetada para ser usada com qualquer tipo de semente. "Uma coisa muito interessante é que, quando pensamos em agricultura familiar, os produtores não tem um técnico presente para instruir sobre como fazer o plantio ideal. A fita é adaptada para cada região e já vai com o tratamento de semente, micronutrientes e espaçamento", informa.

Ainda segundo Marrafon, além da cultura principal, outras plantas, secundárias, também podem ser inseridas de forma a aproveitar ainda mais o solo.

"Podemos, por exemplo, colocar milho como cultura principal e de forma aleatória a fita pode conter sementes de pepino, abobora, melancia e melão, culturas que não interferem no desenvolvimento do milho e, assim, proporcionar uma maior variedade de alimento para o pequeno agricultor", informa.

Testes com a fita serão feitos no Brasil e na África

Com os recursos do financiamento, Marrafon afirma que o foco de sua pesquisa será a construção de uma máquina para produzir as fitas em grande escala, além de testes de campo com o material no Brasil e África.

"Pelo menos metade dos testes serão no continente africano", disse. "Com a fita, qualquer pessoa pode ser um pequeno agricultor e, na África, onde a incidência de fome é maior, isso pode ajudar as pessoas."

Ele informou ainda que a ideia nasceu em Iracemápolis, na propriedade de sua mãe, que é pequena produtora rural.

"Percebi a dificuldade para encontrar o espaço correto e, na faculdade, comecei a trabalhar esse sistema", disse. O projeto foi finalizado em 2008 e, desde então, ele procura parceiros para apoiar o projeto. "Estava quase desistindo quando fui selecionado".

Outros dois brasileiros também recebem recursos

Além do projeto do pesquisador de Iracemápolis, outros dois brasileiros receberam verbas da Fundação Bill e Melinda Gates.

Um deles foi o farmacêutico Floriano Paes Silva Júnior, que busca um software capaz de interpretar imagens de parasitas realizadas a partir de um microscópio e, então, após esse primeiro passo, melhorar tanto o diagnóstico do que está acontecendo quanto qual medicamento deve ser receitado.

Já o projeto do engenheiro mecânico Ricardo Capúcio de Resende é uma ferramenta que também auxilia o plantio.

Trata-se de uma máquina, bem parecida com um carrinho de mão, com duas rodas, que cava buracos no solo enquanto lança as sementes. O sistema pode ser utilizado por qualquer pessoa sem a necessidade de tratores.

As duas iniciativas também receberão US$ 100 mil, verba que pode ser ampliada até o limite de US$ 1 milhão.

"O nível de excelência dos três projetos reforça a aposta da Fundação na capacidade de inovação dos pesquisadores brasileiros para atacar problemas globais de desenvolvimento", informou Steven Buchsbaum, diretor adjunto de Descoberta e Pesquisa Transnacional da Fundação Bill & Melinda Gates.

Eduardo Schiavoni

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Fonte: Economia.Uol


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