Ser Universitario
 

Formação de bolhas sócio-culturais

Professora de Química

Artigo escrito por Cristiana de Barcellos Passinato

Data 22/02/2014

Sou professora há 3 anos de uma escola que fica situada entre comunidades do complexo da Maré, na Avenida Brasil, no Rio de Janeiro.

Lá tive conhecimento de um projeto da Petrobras com as crianças dessa comunidade nas escolas do município e uma das ações com os professores é um curso de formação continuada na UFRJ de especialização em “Políticas públicas e projetos socioculturais em espaços escolares” no qual me inscrevi, passei e estou cursando desde ano passado, no segundo semestre.

Já pudemos ter aulas com diversos professores de áreas diversas e tivemos aulas de políticas públicas, de projetos socioculturais em diversas áreas e linguagens e agora nós estamos discutindo juventude, sociedade, família, cultura em 2 disciplinas com 2 professores diferentes.

Mas algumas questões e discursos me chamaram atenção e desde o início tenho me preocupado com os discursos dos colegas e a visão que estou assumindo de favela.

Sim, o pessoal trata a comunidade como favela, pois sabemos que a palavra favela é mais significativa do que a palavra comunidade para o contexto dos alunos de nossas escolas.



O que significaria a palavra favela?


Segundo Hoauiss, em seu dicionário, defini-se formalmente favela:


“Regionalismo: Brasil.

Conjunto de habitações populares que utilizam materiais improvisados em sua construção tosca, e onde residem pessoas de baixa renda

Derivação: por extensão de sentido. Regionalismo: Brasil. Uso: pejorativo.

Lugar de mau aspecto; situação que se considera desagradável ou desorganizada”.


Mas há muitas variações do conceito de favela das que são postas no dicionário, e é dentro dessa discussão que muitas vezes fico preocupada com alguns aspectos, tais como o isolamento desses indivíduos que moram naquele espaço do resto da cidade.



O isolamento social já é evidente e é feito de forma natural e automática, o geográfico, outro dia um dos professores, não por acaso da área de geografia nos mostrou o mapa da cidade do Rio de Janeiro e encontramos motivos até geográficos para alguns distanciamentos serem consumados.

Os ditos favelados se localizam até geograficamente distantes dos centros e Zona Sul.



O que quero discutir aqui, na realidade é o que estamos estudando e um grupo de colegas estava em reservado ao fazer um trabalho mencionando que é a contracultura ou a cultura da favela. Falei que me incomodava essa coisa de a favela desenvolver toda uma cultura isolada que só é consumida por aquela comunidade e não tem intercâmbio com outros bairros, pois para mim a favela tinha que ter cara, identidade, arte, cultura, sim, mas com infra-estrutura de bairro e trocar informações com outros bairros, pois aí sim, a favela estaria criando uma contracultura.



Para mim, a favela pode ter toda a sua característica multicultural, multicolorida, com os migrantes de todas as partes e lados de nosso país colaborando, mas ela precisa de melhores condições de vida e quem ali mora não deve ficar isolado na bolha criada como se ela tivesse fadada a ser feliz somente ali naquele espaço.

Acredito que as pessoas de lá devam transitar por diversos lados da cidade e se sentindo também dignos e pertencentes aos espaços públicos, convivam com a arte de fora da favela a aceitando bem como as pessoas de fora dela aceitem e convivam com a de lá.

A tolerância e a convivência com o diferente deve ser tanto de fora quanto para dentro da favela.



Na favela se produz coisas maravilhosas, não só o crime organizado, e quando essa cultura e arte, só como exemplo esses dois elementos forem mesmo valorizados o morador da favela sentirá que é válido crescer e quem sabe até ficar ali, mas não ser fadado à pobreza eterna, por que não ascender à classe média? 

E digo mais. Há já muita gente de classe média e rica na favela que não sai de lá por não se acostumar e nem se sentir bem em outro ambiente que não seja o dali em que nasceu e foi criado.

Essa bolha que criaram na favela que eu sou extremamente contra. Para mim é como um gueto é como as classes dominantes querem que a classe mais baixa fique. Eles que criem um espaço e se isolem lá e não nos incomodem, devem dizer os ricos.



O movimento dos rolezinhos, que há princípio era algo inofensivo e que depois se tornou algo tão temido como os arrastões que nada mais é do que esse medo estampado na nossa consciência coletiva.

Quem gosta de ver alguém com jeito de favelado em shopping ou em algum lugar público que freqüente? 

Pois é. Eu digo. Nem os meus alunos mesmo. Quando dou aula, e que algum deles se comporta de forma mais inadequada, sempre um solta a pérola: “Ih, professora, não liga, não, é favelado mesmo...”



E aí quando eu pergunto onde eles moram, sempre dizem: “Na favela.” Quando respondem já sorrindo, eu lhes pergunto: “Então, quem é favelado?”

Precisamos vencer essa coisa do preconceito e misturar para criar uma cultura mais rica tanto na favela quanto nos grandes centros ou Zona Sul, pois é o debate entre as linguagens que nos faz crescer cada dia mais.


Cristiana de Barcellos Passinato


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Cristiana de Barcellos Passinato

Cristiana de Barcellos Passinato - Professora de Química

Carioca, Professora Estadual SEEDUC-RJ, Especialista em Políticas Públicas e Projetos em Espaços Escolares, pela Faculdade de Educação da UFRJ e Mestranda em Ensino de Química UFRJ
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