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Copa de 2014 o Serviço Social:

desdobramentos de sua ação interventiva e investigativa

25/06/2014 - 13:10h

Prof.ª Me. Maria Isabel Prezotto Vicente

É sabido que o Brasil foi descoberto e tido como colônia de exploração, inicialmente subalternizado ao país que o descobriu – Portugal, mas a disposição de todos os demais países da Europa, que vinham aqui para explorar suas riquezas minerais e naturais. Posteriormente, submetido ao modelo norte americano, permanecendo até os dias atuais.

 

Seguindo esta perspectiva de raciocínio, é possível observar que o povo brasileiro, sempre foi um povo cordeiro e pacífico, pois quando manifestou o desejo de se firmar como Nação, que luta e defende seus interesses e de toda a coletividade, foi fortemente reprimido pelo autoritarismo da Ditadura Militar, em 1964. Impedido de manifestar seus desejos por longos vinte anos de repressão, perdendo as características de um povo unido e empoderado, pois diante da possibilidade da morte, optou por poupar a vida.

 

O Serviço Social, instituído e reconhecido como uma das profissões que defende a vida, favorecendo a efetivação de direitos humanos e sociais estabelecidos em Lei, não pode tolerar passivamente a realização de “mega eventos” como o da Copa do Mundo 2014, que era para ser um grande evento esportivo, de repercussão internacional e deixar vários legados positivos para a população brasileira, materializa-se nas cidades-sede com a dimensão contrária, em ações de violações de direitos da população e falta de transparência nas obras e gastos públicos.

 

O que hoje assistimos é a prevalência dos interesses do capital acima dos interesses da grande massa populacional, empobrecida e destituída de bens e serviços. População esta, denominado por Faleiros (1998), como “descarte social”, pois destituída até de sua dignidade e liberdade humana, de se posicionar diante da  exploração e violência, sobretudo infanto-juvenil, já que o Brasil ocupa o 10º lugar no fornecimento de pessoas para o tráfico humano, conforme aponta o Programa de Ações Integradas e Referenciais de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil no Território Brasileiro (PAIR)/2014.

 

Neste sentido várias ações têm sido propostas para coibir o aumento abusivo de ações de exploração e violação de direitos.

 

O SESI – Serviço Social da Indústria e a Frente Nacional dos Prefeitos – FNP, lançaram em 16 de abril, p.p, no Rio de Janeiro a campanha, denominada: “Não Desvie o Olhar”, voltada a conscientização de turistas que circularão pelo país durante a Copa do Mundo de 2014, contra a exploração sexual de crianças e adolescentes.

 

O CFESS – Conselho Federal do Serviço Social publicou a seguinte manifestação em seu site: “Se não há motivos para comemorar, sobram razões para protestar! Porque a Copa está servindo para escancarar os contrastes da sociedade brasileira, escancarar que o capital é, mais uma vez, colocado em primeiro plano, deixando a população à míngua e massacrada pelo não atendimento às suas necessidades”.

Assim, os profissionais do Serviço Social, como os da saúde, da educação, que fazem interface diretamente nas ações sócio assistenciais, precisam estar atentos ao possível aumento das demandas sociais que porventura possam vir a ocorrer a partir deste “mega evento”, não podendo permanecer pacificamente e a tolerar, pois como afirma André Comte Sponville: A tolerância é uma virtude delicada, pois só pode ser considerada virtude se for na dose certa – e este é um grande desafio. Tolerar tudo não é mais tolerância e sim indiferença”

Portanto não podemos nos tornar indiferentes, pois a indiferença nos leva ao egoísmo ou ao pior, que é “tolerância atroz, atroz tolerância”.

 

É preciso urgentemente rever nossas ações e atitudes, pois  “Desrespeitando os fracos, enganando os incautos, ofendendo a vida, explorando os outros, discriminando o índio, o negro, a mulher, não estarei ajudando meus filhos a ser sérios, justos e amorosos da vida e dos outros.”  (Freire, 2000).

 


Referências:

COMTE-SPONVILLE, A. Pequeno tratado das grandes virtudes. SP: M. Fontes, 1995.

FALEIROS, Vicente de P.. Estratpegias em Serviço Social. 1998. Cortez Editora. São Paulo.

Freire, Pulo. Pedagogia da Indignação, 2000.

 

Prof.ª Me. Maria Isabel Prezotto Vicente - Possui graduação em Serviço Social - Faculdades Integradas Maria Imaculada (1981) e Mestrado em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2002). Atualmente é professora adjunto - Associação Educacional e Assistencial Santa Lucia e Coordenadora do Curso de Serviço Social do UNISAL - Centro Universitário Salesiano de São Paulo - Unidade Americana, SP.


Fonte: Unisal
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