Por Eduardo Engelmann*
Texto publicado originalmente no Clube do Designer
Noite dessas estava num bar (de novo) esperando um amigo para tratarmos de assuntos profissionais e, durante a espera fica chato não ter o que fazer. É interessante estar num bar lotado e você ocupando apenas uma cadeira da mesa – várias pessoas chegam e ficam pedindo as cadeiras vazias – mas eu estava esperando um amigo então nenhuma cadeira sairia. Para passar o tempo, saquei o meu sketch book e fiquei desenhando as pessoas. É bem divertido. Então fiquei pensando no papel. O que seria da vida sem o papel?
Hoje os movimentos ecológicos, a preservação da biodiversidade e outras correntes naturalistas criticam a derrubada das matas para a retirada da celulose e a confecção do papel. Acho isso uma grande ignorância. A indústria do papel hoje trabalha com reflorestamento consciente. Semana passada fui para o interior mineiro e ao passar pela Rodovia dos Bandeirantes, logo na saída de São Paulo, visualizamos milhares de hectares de pinho e eucalipto – é praticamente uma parte do cinturão verde da cidade – e é de uma empresa de papéis. Já chegando em Minas, em Mogi Guaçu, uma outra empresa trabalha da mesma forma.
Meu amigo chegou e sacou o seu
iPad e, enquanto conversávamos, ele começou a desenhar no equipamento que é munido de um software – não é a mesma coisa. É interessante, mas não é a mesma coisa!
Trabalho com um software chamado Corel Painter, onde posso escolher o papel de acordo com a pintura que será realizada. Particularmente gosto muito de trabalhar com aquarela e, para isso, devo utilizar um papel especial chamado
Fabriano Uno de 640 gramas. O tamanho da folha é de 56 cm x 76 cm e a celulose é extraída do algodão – custa apenas R$ 49,90 (quarenta e nove reais e noventa centavos) cada folha. O
Painter permite que eu escolha o papel, a gramatura e simula a aquarela de forma magnífica, mas temos um problema – na hora de imprimir não é a mesma coisa.
Sim, continuo trabalhando com o
Painter , pois 90% de meu trabalho é destinado a reprodução em grande escala e, trabalhar uma aquarela no Fabriano e depois digitalizar, trará uma perda muito grande nas cores, na luminosidade e na transparência da aquarela – então, quando o objetivo é ilustrar uma página, faço diretamente no Painter. Quando o objetivo é fazer uma arte contemplativa eu uso
Fabriano e aquarelas
Talens – são de procedência holandesa.
Hoje muitos artistas têm adotado essa mesma postura. Mas quando a intenção é fazer uma pintura artística, não tem saída – temos que fazer de forma manual utilizando o velho Fabriano.
A arte nos oferece uma variedade incrível de papéis de acordo com a técnica que será emprega. Observe algumas sugestões:
Aquarela – Fabriano de pelo menos 300 gramas – cada folha custa entre R$ 30,00 e R$ 50,00. Existem outras gramaturas menores, mas mesmo o papel sendo de excelente qualidade, você corre o risco de machucá-lo – para usar gramaturas menores o artista tem que possuir muita técnica e experiência.
Acrílica – o ideal é pintar na tela, mas você pode pintar também em papel. Para isso temos duas sugestões:Canson Figueras (França) de 290 gramas – custa aproximadamente R$ 70,00 o bloco; ou você pode utilizar um papel um pouco mais caro, mas de melhor qualidade: Talens Rembrandt de 350 gramas – bloco com 10 folhas custa R$ 74,90.
Pastel – a pintura com pastel pode ser seca ou oleosa. Então, não tem saída, o melhor papel é Winsor & Newton A3 ou A4 bloco com 24 folhas. O A3 custa R$ 110,00 e o A4 sai por R$ 60,00. O legal desse papel, ou melhor, desse bloco, é ele vem com 6 cores aleatórias, para quem curte o trabalho com pastel, sabe como isso é importante.
Nankin – particularmente é uma das técnicas que também gosto muito. Aqui você poderá utilizar papéis nacionais e posso sugerir o Cason Estudante Branco de 140 gramas. O bloco vem com 20 folhas. Tome cuidado, pois existe Canson Creme, na minha opinião o contraste não é tão bom quanto o papel branco. Mas, para ter um trabalho de qualidade, sugiro o papel Arches Dessin & Lavis de 220 gramas – o bloco vem com 14 folhas e custa cerca de R$ 80,00.
Sketch – Quer apenas treinar? Use qualquer bloquinho de sulfite de 120 gramas, mas se você quer desenhar com grafite e sua idéia é manter esses desenhos em portfólio ou enquadrar a obra, então você deverá investir. Sketch Book Hahnemuhle alemão A4 de 120 gramas. É fantástico, a textura do papel é incrível. Pena que custa cerca de R$ 40,00 o bloco com 60 folhas.
Muito bem, por que resolvi escrever sobre papéis?
Além da comparação que fiz com desenhar/pintar em papéis e com o auxilio da mídia digital, essa semana ainda pretendo escrever sobre o papel dos papéis nas artes gráficas. Acho que é um assunto muito importante para aqueles que desejam ingressar ou estão ingressando nesse fantástico mundo do papel. Então isso foi apenas uma introdução.
Ah, um último comentário. O assunto fluía de forma descontraída quando meu amigo disse: – Acho que essas novas mídias como o iPad e a Internet vão acabar com o papel. Fiquei olhando para a cara dele e disse: -Você já observou como tem revistas de Web nas bancas de jornais?
*Eduardo Engelmann é gerente de produtos da Impacta Art & Design e Gestor do Clube do Designer. Atuou como ilustrador, infografista e designer gráfico nos últimos 30 anos e também como instrutor no segmento de design da Impacta nos últimos 20 anos.