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Livro reúne menus de jantares e piqueniques da época de d. Pedro 2º

12/02/2014 - 07:01h

"Depois do almoço, conversei. Daí fui à casa de [Félix] Nadar [fotógrafo francês], onde fiz minha fotografia. Trovejava. Jantei às 5pm." Os diários do imperador dom Pedro 2º são assim.

Telegráficos, objetivos, sem grandes descrições ou reflexões. Talvez por isso, até hoje não tenham recebido uma boa edição (trata-se de um calhamaço de mais de mil páginas, com desenhos e poemas de sua autoria).

Cristiano Lopes
Imagem do livro mostra louças da família real
Imagem do livro mostra louças da família real

Cruzá-lo a documentos de época, porém, pode ajudar a pintar um retrato mais colorido e vivo de seu longo reinado (pouco mais de 48 anos) e de como era a vida nas cortes no século 19.

No dia que descreve acima, do verão parisiense de 1887, o imperador comera um filé de carne bovina à Richelieu (com tomate, cogumelos, alface e batatas) com purê de ervilha-verde.

Na mesma viagem, num trem que o levou de Paris a Madri, serviu-se de costeleta de carneiro e queijos. Parte desse trabalho de reconstrução foi realizado pelo jornalista e chef de cozinha André Boccato e o também chef Francisco Lellis, no livro "Os Banquetes do Imperador", que acaba de ser lançado pelo Senac.

O livro reúne 140 cardápios colecionados pela família real brasileira e guardados na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. "Naquela época, era comum guardar os menus, como se guardam os programas de ópera, a gastronomia era uma arte desfrutada com prazer. E dom Pedro colecionava ambos", diz Boccato à Folha.

Estão reunidos cardápios de jantares comemorativos oferecidos na corte carioca a autoridades estrangeiras ou como celebração de grandes datas, assim como o menu de hotéis, trens, navios e até de piqueniques. É o caso de um realizado na ilha de Paquetá, em 1883, onde foram servidos peixe ao molho tártaro, coxa de ave com aspargos, salada de frutas e sorvete de creme.

Os menus eram, em geral, pré-impressos na Europa e preenchidos aqui, com a lista dos pratos, na maioria das vezes, em francês. "O mundo era francês. A gastronomia era globalizada desde então, com a França como referência", diz Boccato.

O livro mostra, porém, como a corte imperial foi incorporando pratos brasileiros. Aqui e ali aparecem itens da cozinha regional, como o "churrasco à moda do Rio Grande do Sul" ou o "peito
de peru à brasileira", não raro outros com elementos africanos, como o angu de quitandeira e o vatapá.

Há, ainda, cardápios de encontros de dom Pedro 2° com a realeza internacional, como o oferecido por Khédive Mohamed 3º, vice-rei do Egito, durante a visita do imperador brasileiro àquele país -serviu-se filé de galinhola e faisões acompanhados de codornas e de salada verde. Ou, ainda, o do jubileu da rainha Victoria, da Inglaterra, em 1877, em que dom Pedro 2º tomou parte.

No Brasil, são palco desses jantares o famoso Cassino Fluminense, o próprio Palácio de São Cristóvão e hotéis da capital.

O mais famoso, porém, segue sendo o baile da Ilha Fiscal, em novembro de 1889, oferecido à tripulação de um navio chileno. Nele, conta o livro, se consumiram nada menos 350 frangos, 18 pavões, 300 galinhas e mais de 10 mil garrafas de vinho. O baile armou-se enquanto a República era urdida perto dali, num Rio de Janeiro em plena transformação, e acabou se tornando o símbolo do fim da monarquia.

Os Banquetes do Imperador - Receitas e Historiografia da gastronomia no Brasil do século 19
Autores André Boccato e Francisco Lellis
Editora Senac São Paulo e Editora Boccato
Preço R$ 199,90 (448 págs.)



Fonte: Uol


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