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Pais são incentivados por filhos a voltar a estudar

12/10/2015 - 19:01h

Leilaine Chagas dá aula de português para a mãe, dona Selma, que voltou a estudar por incentivo das filhas (Foto: Marcelo Moryan/ A Gazeta)
Leilaine Chagas dá aula de português para a mãe, dona Selma, que voltou a estudar por incentivo das filhas (Foto: Marcelo Moryan/ A Gazeta)

Quando parou de estudar tempos atrás, Selma Chagas, de 52 anos, jamais imaginou que um dia, ao voltar aos bancos da escola, teria uma professora especial. É que a própria filha, Leilaine Chagas, 28, é a professora de português da mãe, que agora conclui o ensino fundamental na Escola Estadual Joventina Simões, em Guarapari.

Para voltar a estudar, Selma contou com o incentivo das filhas, uma professora, outra jornalista e a caçula, de 10 anos, que está no 5º ano do ensino fundamental. A família Chagas é um dos exemplos de filhos que inspiram os pais na educação.

“Não imaginava que um dia fosse dar aulas para a minha mãe. Ela parece ter sido moldada para ser mãe e esposa. Jamais imaginei que ela iria voltar a estudar”, disse Leilaine.

Selma contou que a decisão de voltar a estudar veio de forma repentina. No começo, a ideia era ir só na primeira semana de aulas para ver como era. “Se eu soubesse teria voltado a estudar antes. Parei na adolescência porque eu não queria nada com nada”, contou.

Sobre ter aulas com a própria filha, emocionada, ela conta que precisou segurar a emoção na sala de aula para não mostrar para a nova professora. “Pensei: eu estou aqui e minha filha está dando aula para mim. É uma inspiração”, diz. E muita coisa mudou depois que ela começou a estudar. “Ela se socializa mais”, falou a filha.

E se antes não queria nada, agora Selma quer concluir o ensino médio. Se depender das filhas, vai fazer também Faculdade de gastronomia, já que adora cozinhar. “Quem sabe?”, vislumbra Selma.

Luiz superou o desemprego com a ajuda do filho Yan (Foto: Fernando Madeira/ A Gazeta)
Luiz superou o desemprego com a ajuda do filho
Yan (Foto: Fernando Madeira/ A Gazeta)

Ifes
Luiz Carlos Coelho, de 43 anos, foi demitido da função de encarregado de obras em uma empresa de construção civil. A promessa era ser readmitido, mas isso não aconteceu porque ele não tinha formação.

“A empresa me disse que ia me recontratar, mas não me recontrataram porque no lugar eles queriam profissionais que fossem técnicos”, disse.

O filho dele, Yan, aluno do curso técnico em Segurança do Trabalho resolveu, então, incentivar o pai a retomar os estudos. Hoje, Luiz faz curso de cadista pelo Proeja, no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes).

“Eu tinha parado na quinta série, retomei os estudos e sempre tive como meta fazer essa prova do Ifes. Fiz e passei na primeira vez”, relatou ele, que faz um curso de qualificação profissional junto com o ensino médio.

“Eu tinha ficado um tempo fora da escola, depois com a ajuda de um Professor comecei a me interessar e a entender o que era estudar. Pensei que isso poderia ser bom para os meus pais também”, conta Yan Coelho,  de 21 anos.

Ele revelou que a primeira a voltar para a sala de aula foi a mãe, que até então apenas trabalhava no próprio salão de beleza. Depois veio também o pai, que superou o desemprego com os estudos.

“Sempre falei para eles ao menos tentarem. Eu passei a gostar de estudar depois que entrei no Ifes”, revela o jovem. Hoje Yan está quinto período de Segurança do Trabalho, a mãe está no quarto e o pai faz o Proeja.
 

Fatima conta com a ajuda dos filhos para estudar na universidade (Foto: Fernando Madeira/ A Gazeta)
Fatima conta com a ajuda dos filhos para estudar na universidade (Foto: Fernando Madeira/ A Gazeta)

Ajuda da filha para ir bem na universidade
“Sempre incentivei a minha mãe. Falo para ela estudar. Não para mim ou para o meu irmão, mas para ela mesma, porque ela teve que cuidar dos irmãos quando era mais nova”. Assim, Jennifer Stephanie, de 17 anos, aluna do Colégio Salesiano, descreveu sua relação com a mãe, Maria de Fátima Pereira dos Santos, 39, quando fala dos estudos.

Fátima, que trabalha como auxiliar de serviços gerais na escola em que os filhos estudam como bolsistas, conta que suas “crianças” foram um dos principais fatores que a fizeram voltar a estudar.

Ela diz que achava ter pouco conhecimento para se relacionar com os outros e até mesmo para ajudar os próprios filhos. Por isso, resolveu voltar a estudar quando ainda estava em um outro Emprego. Depois, acabou indo trabalhar justamente em uma escola. E não haveria lugar melhor. “Me disseram que para trabalhar aqui eu teria que seguir nos estudos. E isso me fez muito bem”, contou.

Foi então que, quando veio a ideia de fazer o vestibular, no ano passado, ela descobriu a preciosa ajuda dos filhos, que persiste até hoje. Atualmente, Fátima cursa o segundo período de Biblioteconomia na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

“A minha filha mais velha me ajuda e me inspira muito. Ela toma as questões das provas. Me ajuda nos seminários e tudo”, revelou. Além da ajuda dos filhos, Fátima conta também com a ajuda dos Professores do Salesiano para ir bem na redação.

Jennifer quer fazer Direito e reconhece na mãe uma motivação. Ela e o irmão Emmanuel, de 14 anos, são bolsistas devido ao trabalho de Fátima, que por sua vez, se diz feliz de buscar um futuro melhor não só para os filhos, mas para ela também.
 

Mãe e filha foram fazer ENEM juntas (Foto: Arquivo Pessoal)
Mãe e filha foram fazer Enem juntas
(Foto: Arquivo Pessoal)

Professora foi fazer o Enem e acabou voltando para a Ufes
A ideia inicial era que o incentivo fosse de mãe para filha: a professora de educação infantil Márcia Regina do Nascimento Lyrio topou o desafio de fazer o Enem para provar para a filha Quênia que a prova não era um bicho de sete cabeças. O que ela não imaginava é que a partir daí a coisa seria diferente.

Com a boa pontuação da mãe na prova, Quênia passou a incentivá-la para que ela voltasse a fazer uma faculdade.

“Ela insistiu para que eu fizesse o Vestibular. Disse assim: ‘Vai deixar passar?’. Como eu gosto de ler e gosto de bibliotecas, resolvi fazer Biblioteconomia”, contou Márcia.

“Incentivo até hoje. Mesmo não estando do lado dela eu ligo para saber como estão os estudos, como ela está no curso. Até puxo a orelha”, falou a filha que estuda em São Mateus.

As duas viveram juntas a emoção de passar no vestibular e dividem as experiências até hoje. “Só lamento ela Estudar Fora”, completou a mãe.

*Com colaboração de Elton Lyrio, do jornal A Gazeta.


Fonte: G1


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